Joel 2.1-2, 12-17

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Joel 2.1-2, 12-17

PRÉDICA PARA A QUARTA-FEIRA DE CINZAS | 2 de março de 2022 | Joel 2.1-2, 12-17 | Carlos Arthur Dreher |

A graça e nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos nós. Amém.

Querida Comunidade!

Foi-se a folia! Acabou-se o nosso carnaval! Começou o período de penitência e de reflexão nesta Quarta-Feira de Cinzas e este se estende até o sábado antes do Domingo de Páscoa, tempo que chamamos de Quaresma.

Mas, por que “cinzas”? Desde muito cedo, em Israel, as cinzas foram um sinal de penitência, de arrependimento, ou também de lamentação diante de Deus. Assim, por exemplo, em 1Rs 21, lemos que, após ser duramente repreendido por Elias, o rei Acabe rasga suas vestes, cobre-se de pano de saco e jejua, humilhando-se diante de Deus e buscando seu perdão.

Assim também Jó (Jó 1.30; 2.8), após perder todos os seus bens, inclusive seus filhos e sua filhas, rasga seu manto, raspa sua cabeça, lança-se em terra e senta-se em cinzas. Em Jonas 3.5s, os ninivitas, inclusive o seu rei, proclamam um jejum, vestem-se de panos de saco e se assentam sobre cinzas.

A Igreja assumiu essa tradição. A partir do século VII, já se conhece a Quarta-Feira de Cinzas como o início da Quaresma, o período de jejum que antecede a Páscoa. É tempo de penitência, em preparação à festa da Ressurreição.

Na Quarta-Feira de Cinzas, os penitentes são vestidos com roupas penitenciais, cobertos de cinzas. A partir do século X, passa-se a consagrar as cinzas. Mais tarde, em torno de 1090, clérigos e leigos são marcados na testa com uma cruz feita de cinzas obtidas de ramos guardados desde o Domingo de Ramos do ano anterior.

De algo semelhante, mas diferente, nos fala o texto previsto para a pregação no dia de hoje. Ouçamos o que diz a palavra de Joel 2.1-2, 12-17:

(Leitura do texto)

Pouco sabemos de Joel, filho de Petuel. Não há maiores informações do que aquelas que podemos deduzir de seu livro. Joel já está além da profecia. Situa-se na apocalíptica, na qual é típico utilizar linguagem simbólica, muitas vezes indecifrável. É provável que se situe na época após Esdras e Neemias, isto é, na primeira metade do século IV a.C.

Seu livro descreve uma praga de gafanhotos arrasadora (cap. 1). Será real? Ou a alusão a um invasor que assalta a terra?  Serão já os gregos que invadem a Palestina a partir de 333 a. C.? Cap. 2, onde se situa nosso texto, faz soar a trombeta em Sião/Jerusalém diante do ataque de um povo grande, ou seja, um forte exército. Tudo isto, porque o Dia do Senhor já está próximo!

O conceito de “Dia do Senhor” é bastante antigo. Remonta ao tempo dos Juízes, ainda antes da monarquia em Israel. Ali designa o dia em que o Senhor vem ajudar seu povo na luta contra seus inimigos. Mais tarde, já no profeta Amós, o “Dia do Senhor” é entendido como o dia em que Deus vem fazer justiça em meio a seu povo, voltando-se contra os senhores do poder que humilham e maltratam os pobres.

Em Joel, o “Dia do Senhor” é visto como o momento em que um poderoso exército inimigo invade a terra e vai destruindo tudo. O texto interpreta esta catástrofe como castigo de Deus!

Diante do terror que se instaura, Deus mesmo fala a seu povo: “Convertei-vos a mim de todo o vosso coração!” É o chamado à penitência. Porém, desta vez essa penitência tem um caráter um tanto diferente: “Isso com jejuns, com choro e pranto. Rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes, e convertei-vos ao Senhor, vosso Deus!”

Nessa penitência, jejum e lamento estão presentes, mas não mais as vestes rasgadas, o vestir-se de panos de saco, nem o assentar-se sobre cinzas. O que vale é a conversão de coração: “Rasgai o vosso coração!”

A penitência não se faz com ritos! Faz-se com arrependimento sincero, de coração. Faz-se quando as pessoas reconhecem verdadeiramente seus erros, seu pecado, e se dispõem a uma nova vida com Deus!

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Foi-se a folia! Acabou-se o nosso carnaval! Começou o período de penitência e de reflexão nesta Quarta-Feira de Cinzas, e este se estende até o sábado antes do Domingo de Páscoa, tempo que chamamos de Quaresma.

A Quaresma tem quarenta dias. Contudo, se olhamos o calendário, vamos ver que são alguns dias a mais. Como assim?

Em nossa conta, precisamos descontar os domingos. Afinal, não podemos jejuar no dia da Ressurreição! O dia da Ressurreição é dia de alegria! Por isto, interrompemos o jejum no fim do sábado, para retomá-lo no fim do domingo.

Pela tradição judaica, o dia começa quando surgem as três primeiras estrelas no céu. Isto significa que o domingo inicia por volta de seis horas da tarde de sábado. De aí até as seis horas da tarde de domingo, o jejum está suspenso! É possível festejar, celebrar a partir das seis horas da tarde de sábado, retomando o jejum às seis horas da tarde de domingo.

Por fim, é importante lembrar que o jejum tem um caráter social. Não é dieta ou regime para emagrecer, nem tampouco uma maneira de maltratar o corpo ou de sofrer. Jejuar é abster-se de comer e de beber algo, para dar a parte correspondente às pessoas que passam fome ou sede. Jejuo para ajudar o próximo, para dar-lhe algo que comer. Jejuar é privar-se de algumas coisas para ir de pouco a pouco montando cestas básicas para os pobres.

Certa vez ouvi de alguém que em um certo bairro pobre de Porto Alegre famílias negras fazem churrasco na Sexta-Feira Santa. Sacrilégio? Não. É a lembrança de que, nos tempos da escravidão, os senhores brancos jejuavam e davam a carne que comeriam normalmente para seus escravos que, então, podiam alegrar-se comendo fartamente.

Que a Quarta-Feira de Cinzas nos estimule a práticas de solidariedade com os famintos! Nada de cinzas, de roupas rasgadas ou de outros ritos sem significado, mas o convite à prática da solidariedade. Que Deus nos ajude e encoraje para isto!

Amém!

P. Dr. Carlos Arthur Dreher

Novo Hamburgo – Rio Grande do Sul (Brasilien)

carlos.arthur.dreher@gmail.com

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