Lucas 10.1-11

Lucas 10.1-11

PRÉDICA PARA O 4º DOMINGO APÓS PENTECOSTES | 03.07.22 | Texto de prédica: Lucas 10.1-11 | Demais leituras: Isaías 66.10-14; Gálatas 6.(1-6) 7-16 | Flávio Schmitt |

Que a graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão no Espírito Santo, esteja conosco. Amém!

Prezada Comunidade!

Lá se vão três semanas depois de Pentecostes. O domingo de hoje nos lembra que a dádiva do Espírito Santo precisa dar frutos. O Espírito Santo não foi concedido à comunidade para ficar guardado ou escondido. Assim como num veículo a presença ou ausência de combustível só é percebida quando o motor está funcionando e o veículo está em movimento, assim a presença ou ausência da ação do Espírito somente é sentida quando a comunidade está em movimento e a serviço.

E é da prática de Jesus que a comunidade recebe as coordenadas para se colocar em movimento. Não se trata de um movimento qualquer. Também não se trata de um movimento assemelhado aos demais movimentos que ocorrem ao seu redor. O movimento desencadeado pela ação do Espírito de Jesus na vida da comunidade tem uma intencionalidade. Tem um objetivo. Tem um alvo a ser alcançado.

O texto bíblico que nos guia no discernimento da ação do Espírito na vida da Igreja nos vem de Lucas 10.1-11. Ouçamos o testemunho do evangelista:

Leitura de Lucas 10.1-11.

Estimados irmãos e irmãs!

O movimento para o qual o Espírito Santo nos convoca aponta para o testemunho. Jesus envia seus discípulos para que preparem o caminho por onde Ele haveria de passar. Envia seus seguidores e seguidoras em duplas. Convoca, prepara, orienta e envia. A tarefa confiada às pessoas que Lhe seguem é muito clara. Na orientação de Jesus não há rodeios. Além de clara e simples, a tarefa pode ser cumprida tranquilamente pelas pessoas que dela foram encarregadas. Não há necessidade de nenhum requisito extraordinário. Pelo contrário, tudo que se faz necessário às pessoas enviadas já tem consigo.

Também importa observar as recomendações de Jesus. Nelas pode-se verificar que Jesus não vende facilidades. Pelo contrário, preparar o caminho do Senhor não é tarefa fácil. Há obstáculos de toda ordem a serem superados, pessoais e contextuais.

Jesus começa falando do descompasso entre o tamanho da seara e o número de pessoas trabalhadoras. De fato, esta desproporção precisa ser considerada. Porém, não pode ser desculpa para inanição. Depois, adverte com relação aos perigos e ameaças. Fala de lobos e cordeiros. Sim, a vida no Espírito foi e continua sendo um risco. Na sequência Jesus fala como lidar com os diferentes espaços sociais que aparecem pelo caminho. Tanto a casa, como espaço da vida privada, quanto a cidade, como espaço da vida pública, são espaços para a presença e atuação do Espírito. Em torno da casa gira o assunto da paz. Para que Jesus possa passar e entrar na casa, nos diz Lucas, a paz é necessária. Sem paz, tudo fica mais difícil.

O mesmo pode-se dizer da cidade. O assunto que gira em torno da cidade é o alimento. Aliás, o alimento faz a ligação entre a casa e a cidade. O elo entre a casa e a cidade está no comer e beber. Nisso vemos o quanto é atual o testemunho das pessoas discípulas. Para que Jesus possa passar e entrar na cidade a fome precisa ser saciada. Sem alimento, com fome, a consumação da tarefa não acontece.

A advertência de Jesus precisa ser levada a sério. O testemunho dos mártires de ontem e de hoje nos diz o quanto lobos são e continuam vorazes. Desafio particularmente interessante está na bagagem a ser levada. Numa sociedade de consumo e conforto para uma minoria das pessoas, como a nossa, soa particularmente estranha a simplicidade recomendada por Jesus. Não levar peso na preparação do caminho por onde Jesus quer passar torna o fardo leve.

Por fim, a mais nobre das tarefas: curar enfermos! As palavras de Lucas relacionam a cura dos enfermos com a proximidade do reinado de Deus. A ação do Espírito Santo não pode desdenhar desta tarefa confiada às comunidades que vivem no Espírito. Num mundo de pessoas cada vez mais enfermas no corpo e na mente, curar é sinal da presença de Deus, do Emanuel.

Sim, Estimada Comunidade! A tarefa da qual Jesus incumbe a comunidade não é uma tarefa para indivíduos. É uma obra coletiva. Como diz o ditado: “uma andorinha sozinha não faz verão”. Esta verdade do mundo natural vale também para as verdades da fé. Na seara do Senhor ninguém chega a lugar nenhum sozinho ou sozinha. Precisamos, cada vez mais, ser corpo de Cristo.

Também não é uma tarefa simples. Pelo contrário, carrega consigo sua complexidade e desafia para a resistência. Um dos maiores erros da atualidade consiste em subestimar o poder dos obstáculos à realização da tarefa com a qual Jesus compromete sua comunidade.

Por isso mesmo, pessoas precisam ser chamadas. Não obstante os dois mil anos de caminhada cristã, a seara continua grande. Talvez até maior do que já tenha sido em qualquer das épocas do passado. Também é verdade que as pessoas trabalhadoras são poucas. Proporcionalmente à população mundial, talvez nunca tenham sido tão poucas.

Do outro lado, para usar a figura de Lucas, os lobos aumentaram. Além de aumentar, estão mais famintos do que nunca. Além da presença em número maior e do apetite mais aguçado, cordeiros de Jesus figuram no prato principal dos lobos em nossos dias. O risco da fé precisa ser corrido. Depois da efusão do Espírito Santo, a comunidade cristã não tem mais licença para permanecer trancafiada e amedrontada.

Eis a tarefa que nos foi confiada. Ir, de casa em casa, de cidade em cidade, levar a paz e compartilhar do alimento e do pão de cada dia. Como sinal de que há combustível, há Espírito, a presença do movimento da diaconia que se mostra na cura das pessoas enfermas.

E que a paz de Deus, que excede todo nosso entendimento, nos acompanhe e nos guarde na verdadeira fé, para a vida eterna. Amém!

___

P. Dr. Flávio Schmitt

São Leopoldo – Rio Grande do Sul (Brasilien)

flavio@est.edu.br

de_DEDeutsch