Lucas 15.1-10

Lucas 15.1-10

PRÉDICA PARA o 14° DOMINGO APÓS PENTECOSTES | 11.09.2022 | Texto bíblico: Lucas 15.1-10 | Nilton Giese |

15 E chegavam-se a ele todos os publicanos e pecadores para o ouvir. E os fariseus e os escribas murmuravam, dizendo: Este recebe pecadores e come com eles.

E ele lhes propôs esta parábola, dizendo: Que homem dentre vós, tendo cem ovelhas e perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa e nove e não vai após a perdida até que venha a achá-la? E, achando-a, a põe sobre seus ombros, cheio de júbilo; e, chegando à sua casa, convoca os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Alegrai-vos comigo, porque jáachei a minha ovelha perdida.Digo-vos que assim haverá alegria no céu por um pecador que se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento.

Ou qual a mulher que, tendo dez dracmas, se perder uma dracma, não acende a candeia, e varre a casa, e busca com diligência até aachar? E, achando-a, convoca as amigas e vizinhas, dizendo: Alegrai-vos comigo, porque já achei a dracma perdida. 10 Assim vos digo que há alegria diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende.

[Almeida Revista e Corrigida 2009, Lucas 15.1-10]

PrezadaComunidade.

O Evangelho de hoje nos quer falar da alegria que Deus sente quando ele nos reencontra. Jesus quer mostrar aos que o escutam, que Deus sente uma tremenda alegria quando pessoas que estavam afastadas da Comunidade e da igreja, voltam em sua direção, desejando estar outra vez com ele. Sim, Deus sente uma tremenda alegria quando vê pessoas voltando para sua casa, para o convívio na Comunidade.

As parábolas da ovelha perdida e da moeda perdida são muito conhecidas e elas trazem a mensagem da misericórdia, do perdão e nos ajudam a entender o que Jesus espera de cada um de nós.

O texto inicia dizendo que MUITOS publicanos (cobradores de impostos) e pecadores aproximavam-se para ouvir Jesus. O texto faz questão de ressaltar que essas pessoas eram pessoas de má fama. No entanto, essas pessoas se sentem atraídas por Jesus, pois encontram nele um acolhimento e compreensão que não encontram em nenhuma outra parte.

Por outra parte, os representantes do judaísmo só sabem criticar:
Criticam os publicanos porque cobravam impostos do povo por concessão do império romano e – muitos deles – cobravam mais do que deviam;
Criticam os pecadores, porque tinham uma conduta imoral – talvez houvesse entre eles ladrões, assassinos, fraudadores. Mas não somente estes eram considerados pecadores, também todos que exerciam uma profissão considerada impura pela religiosidade judaica: as prostitutas, os pastores de ovelhas, os tosquiadores, os curtidores, os açougueiros, os enfermeiros que aplicavam sangrias, os médicos, os proprietários de casas de banho e até os condutores de camelo. (esta lista e comentários sobre a mesma encontra-se no livro de Joachim JEREMIAS, Jerusalém no Tempo de Jesus, p. 403-414).

Os representantes do judaísmo ficavam horrorizados com Jesus, porque como é possível que um homem de Deus compartilhe a mesma mesa com essa gente pecadora e indesejável?

Receber pecadores, comer com eles era um escândalo para a religiosidade judaica. Os fariseus e os escribas atribuíram a si a incumbência de zelar pela santidade do povo. E um dos principais preceitos dessa santidade era que uma pessoa judia religiosa e pura não deve associar-se aos ímpios. Os transgressores da lei, os pecadores devem ficar isolados. De um lado, os bons e justos; de outro lado, os pecadores. Para os representantes da religião judaica, uma pessoa pecadora não pode ser amada por Deus ANTES de seu arrependimento, antes de fazer jejum e penitência. Não é o justo que deve ir de encontro ao pecador, de acordo com a mentalidade da religiosidade judaica. O justo deve denunciar o pecado e o pecador. E o pecador, por sua vez, deve cair em si, arrepender-se e, somente a partir do arrependimento é que ele poderá receber o amor de Deus.

Talvez muitos de nós até concordemos com esta forma de pensar e de agir.
Mas, Jesus deixa claro que esta não é a forma de pensar e de agir de Deus. Deus não fica em paz, enquanto houver uma pessoa perdida. O coração de Deus dói. Por isso, Deus vai ao encontro, Ele busca, Ele chama, Ele socorre o perdido, como vemos de forma clara na parábola da ovelha perdida. Deus não espera que o pecador/perdido venha, que ele ache por conta o caminho de volta para a casa do pai. É Deus mesmo que vai a procura da ovelha perdida. Por isso, Deus vai ao seu encontro mesmo ainda estando a pessoa em pecado. A mensagem de Jesus é que Deus acolhe o pecador assim como ele é. A mudança de vida não é condição, mas virá como consequência do convívio com Jesus. É na vida comunitária que a pessoa pecadora vai demonstrar o seu arrependimento, vai mudando a sua vida, assim como podemos ver no exemplo de Zaqueu (Lucas 19.1-10).

Portanto, Jesus nos ensina que ele deseja que sua igreja seja acolhedora. A boa acolhida, sem julgamentos, vai curando as pessoas por dentro, liberta da vergonha e da humilhação e lhes devolve a alegria de viver.

Junto com essa parábola da ovelha perdida está a parábola da moeda perdida. As mulheres no tempo de Jesus não tinham nenhum direito sobre a propriedade da casa e das coisas dentro de casa. Tudo pertencia ao homem. A mulher somente tinha o direito sobre aquilo que ela carregava no seu  corpo. Por isso, as joias, as moedas, um anel, um colar, uma pulseira não eram apenas adornos. Representavam sua segurança financeira.  Ali estava o único bem eu elas podiam levar no caso de serem sem marida ou sem um homem que as cuidasse. O valor da moeda perdida era pouco, mas na pobreza nada é dispensável.

E quem já perdeu uma coisa dentro de casa sabe que a gente não descansa até achar o que procura. A gente olha várias vezes na mesma gaveta, olha debaixo da cama, procura nos bolsos da roupa. Não descansa até achar. E quando essa mulher achou sua moeda, do mesmo jeito que o pastor que encontrou a ovelha perdida, ela se encheu de alegria e chamou os vizinhos dizendo: Alegrem-se comigo porque encontrei a moeda que estava perdida. A moeda era de pequeno valor, mas causa uma grande alegria para a mulher que tinha pouco.

E Jesus termina essas parábolas dizendo que assim também os anjos no céu se alegrarão por causa de um pecador que se arrepende dos seus pecados.

Com essas histórias da ovelha e da moeda perdida, Jesus desafia as nossas comunidades a receberem as pessoas com alegria. Jesus não veio para julgar o mundo, mas para salvá-lo (João 3.17).  Devemos entender que nossas comunidades de fé são clínicas, são hospitais para pessoas perdidas.  É através de nossas comunidades que Jesus quer reencontrar, reunir e festejar com quem estava perdido.

Jesus foi um ser de cuidado. Ele mesmo se autodenomina como aquele que serve, como diácono (Mc 10.45), e servir inclui cuidado. Jesus mostrou cuidado especial para com os pobres, os famintos, os discriminados e os doentes. Jesus sempre foi ao encontro daquelas pessoas que a sociedade havia rejeitado. O cuidado de Jesus para com as pessoas é percebido em suas palavras e ações. As palavras e atitudes de Jesus demonstram afeto, misericórdia, amor, respeito, atenção, zelo, acolhimento, valorização do ser humano, sensibilidade com a dor. Enfim, Jesus cuida da vida. São esses valores que nós – em nossas comunidades e como seguidores de Jesus – também hoje somos chamados a resgatar e a cuidar.

Jesus desafia seus seguidores: “Assim como eu vos fiz, façais vós também” (Jo 13.15). Isso significa que Jesus quer que também nós tenhamos um compromisso com a vida.

As parábolas da ovelha e da moeda perdida dizem que devemos procurar resgatar a alegria pela recuperação de quem estava afastado e perdido. Jesus nos quer ativos no cuidado das pessoas, na proteção da boa criação de Deus, na boa convivência entre as pessoas.

Nos tempos atuais vemos que tanto as pessoas e como o mundo estão perdidos e precisam ser resgatados. Também como Comunidades de fé estamos um tanto perdidos em relação ao nosso papel no mundo.  Por isso, também como comunidades precisamos voltar a cultivar os gestos de solidariedade, de amparo, de cuidado, de encontro, mas também de denúncia, de protesto contra o mal. Precisamos resgatar e cultivar em nossas comunidades essa fé alegre e ativa. Mas também uma fé profética, corajosa que não tem medo de se misturar com as pessoas e suas lutas no cuidado pela vida.

Ao agir assim, podemos ter a certeza que Deus chamará a seus amigos e vizinhos no céu e dirá: Alegrem-se comigo, porque hoje achei as minhas ovelhas/ a minha comunidade que estava perdida e que voltei a encontrar. Amém.


P. Nilton Giese

Curitiba – Paraná (Brasilien)

giese1959@mail.com

de_DEDeutsch