Lucas 15. 1-3, 11-32  

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Lucas 15. 1-3, 11-32  

PRÉDICA PARA O 4° DOMINGO NA QUARESMA | 27.03.2022 | Texto bíblico: Lucas 15. 1-3, 11-32 | Osmar Witt | 

Estimadas irmãs e irmãos em Cristo Jesus!

Quanta alegria brota do Evangelho deste domingo! A parábola que Jesus contou traduz o significado da Boa Notícia que ele veio anunciar. Como o expressa o hino 51 de nosso hinário: “Cristo acolhe o pecador, eu também fui acolhido.” A narrativa do evangelho termina numa festa!

De outra parte, a estória nos ajuda a refletir sobre o que acontece conosco em muitas situações de nossas vidas: “a alegria de um é a tristeza de outro.” Somos confrontados com múltiplas facetas da personalidade humana: aquela que reflete quem somos e aquela que expressa quem gostaríamos de ser e ainda aquela que mostra como os outros gostariam que fôssemos.

Esses dois irmãos servem para ilustrar o que Jesus pretende ensinar aos seus ouvintes. Estes olham para ele com reservas, pois ele se mistura com gente de má fama. Ele se preocupa com o que essas pessoas tidas como desqualificadas estão sofrendo, ou estão querendo dizer. Ele se junta a elas em refeições oferecendo-lhes sua amizade e companhia. “Dize-me com quem andas e te direi quem és.” Quanto julgamento a gente faz baseado em preconceitos e nada mais.

É tão real o que esta parábola ensina. Os traços de personalidade representados nestes dois irmãos são tão nossos também. Quem não gosta de ser recebido e acolhido quando cai em si e decide desculpar-se e pedir perdão por alguma falta cometida? Quem não fica chateado ou até magoado quando é esquecido em seu esforço diário e rotineiro de fazer as coisas certas?

O irmão que fica em casa trabalhando com seu pai, fazendo tudo o que se espera de um bom filho, representa nesta estória os ouvintes de Jesus que se esforçam para cumprir seus deveres religiosos e que têm consciência de seu pertencimento ao povo escolhido de Deus. Mas, a parábola de Jesus desmascara a pretensão daqueles que se consideram melhores do que os outros, ou que esperam serem recompensados pelas suas boas atitudes. Afinal, o que há de errado nisso? Não é justo que aquele que se esforça para fazer o que é certo seja reconhecido por isso? Não representa o filho que ficou em casa justamente os valores morais que devem nos guiar? Sim! Mas, então, qual é o problema? O problema é que a moral pode se transformar em moralismo e, com isso, fechar-nos para o nosso semelhante.

O esforço para fazer o que é certo, para cumprir as normas estabelecidas, não nos deve tornar orgulhosos a ponto de nos incomodarmos quando o pai se alegra com o irmão que se arrepende e volta ao convívio da casa.

O irmão que decide sair e gastar sua herança, representa o tipo oposto. Ele quer aproveitar a vida. Não se prende a deveres, nem está preocupado se a sua atitude entristece ou não o seu pai. E é claro que ela o entristece. Pais e mães sabem o quanto é duro deixar que os filhos e filhas deem suas “cabeçadas”. Às vezes, são necessárias, promovem crescimento, fazem “cair a ficha”, como no caso do filho pródigo: em dado momento ele caiu em si. Outras tantas vezes, os pais e mães sabem que os filhos estão num caminho que não tem futuro, que leva à desgraça e à infelicidade. A gente também poderia perguntar como fizemos antes: qual é o problema se o filho quer aproveitar a vida e gastar tudo? Ele não está tão somente fazendo o que quer com o que é seu? Sim. Mas, então, qual é o problema? O problema é que a imoralidade, a vida sem nenhuma disciplina e que a olhos vistos conduz à ruína, entristece profundamente as pessoas que nos amam. O pai na estória de Jesus, não se alegra pelo caminho torto que o filho escolheu, mas se alegra quando ele volta. Talvez vocês estejam pensando: ok, tudo bem, mas nem sempre os que estão nos caminhos tortuosos fizeram uma escolha pessoal. Há tantos fatores que nos podem levar para longe da casa do pai. É verdade! Justamente, por isso, a postura do filho que ficou em casa é questionada. Em seu jeito todo certinho não há mais lugar para alegrar-se com o irmão que, arrependido, volta da farra.

Às vezes fazemos a opção de ficar em casa, com o pai, trabalhar, cumprir nossos deveres, ouvir suas reclamações. Alegrar-se parece quase proibido. Nada de esbanjar, botar fora. Preocupamo-nos com o futuro. Se não formos previdentes corremos risco de ficarmos desassistidos.

Outras vezes fazemos a opção de sair, tanto quanto possível vivenciar todas as experiências disponíveis. Não desperdiçar oportunidades. Dane-se o amanhã. O que importa é viver e aproveitar o dia de hoje. Valores morais? Quem está preocupado com isso? “Comamos e bebamos, pois amanhã morreremos.”

Qual é o tipo que prevalece dentro de nós? Somos mais de aproveitar o dia de hoje sem nos importarmos com o futuro, ou somos mais do tipo previdente, que se preocupa tanto que esquece de viver e celebrar a vida com o que ela tem de bom e belo? Eu creio que a maioria de nós tem um pouco de cada um desses filhos. Quem se acha tão perfeito, que nunca “pisou na bola”, nunca escorregou? Felizmente a gente não precisa sempre ir até o fundo do poço como fez o filho da parábola. Mas, quando examinamos nossas consciências, temos de admitir que também falhamos, também fizemos o que deu na “telha” sem importar-nos com as

consequências, também nos arrependemos pelo que fizemos ou pelo que deixamos de fazer, também precisamos de um pai amoroso que nos abrace e que se alegre porque queremos recomeçar.

De outra parte, quem nunca olhou com desdém para pessoas tidas como pecadoras notórias? Quem nunca pensou consigo mesmo que Deus é injusto, pois parece que só os maus prosperam, como diz o salmista. Quem já não se entristeceu por julgar-se injustiçado quando seu trabalho miúdo, feito com dedicação e silêncio, nunca é reconhecido. “Nunca ninguém me disse obrigado! E eu aqui, dando duro todo o dia.” Sim, precisamos de um pai que reconheça nosso valor, que nos diga: “tudo o que é meu é teu”; aprende a viver a vida com um pouco mais de leveza; não te zangues porque outros estão felizes; eu te amo tanto quanto ao teu irmão que está de volta. Tu és tão importante para mim quanto ele, mas como estás comigo todos os dias eu penso que não preciso te dizer isso sempre de novo.

Não é belo ver como Jesus conhece bem a natureza humana! Estes dois personagens são nossos retratos. Mas, há também um terceiro personagem sobre quem falamos pouco: sim, o pai desses dois irmãos tão diferentes. Ele sofre calado, atende ao pedido do filho que quer sua independência. Sente a dor da ausência. A saudade é tamanha que sai correndo ao encontro do filho. E lhe dá mais do que ele pede e mesmo mais do que merece. O descontentamento do irmão revela isso. Ele toma a iniciativa de promover a reconciliação. “Vamos colocar uma pedra sobre o passado e começar uma vida nova!” Deste comportamento do pai brota uma nova possibilidade e isto é a razão da alegria presente nesta narrativa. O filho que volta arrependido recebe uma nova oportunidade. Tendo desperdiçado sua parte na herança, ele agora depende da misericórdia do pai e do irmão que ficou em casa. O pai já está feliz, celebrando. O irmão ainda precisa lidar com sua mágoa. A alegria do pai será completa quando houver uma reconciliação verdadeira dos dois irmãos.

O evangelho já nos convida para a festa da alegria. Mas, ainda é tempo de penitência: de cair em si, de retornar, de abrir o coração, de aceitar o abraço do Pai amoroso, da Mãe consoladora. É disso que nos fala a Quaresma. Amém.

P. Me. Osmar Witt

São Leopoldo – Rio Grande do Sul (Brasilien) ollwitt@est.edu.br

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