Lucas 17. 11-19

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Lucas 17. 11-19

PRÉDICA PARA O 18º DOMINGO APÓS PENTECOSTES – 9 de outubro de 2022 | Texto bíblico: Lucas 17. 11-19 | Harald Malschitzky |

Irmãs e irmãos em Cristo, querida comunidade.

A lepra é uma doença assustadora por ser contagiosa e por atacar o corpo por inteiro. No decorrer da história a humanidade, através de muitos mecanismos de controle, procurou isolar os leprosos do resto da sociedade, um isolamento que era vitalício, ou seja, durava até a morte! O leproso estava duplamente condenado: A doença o mutilava e lhe roubava a qualidade de vida; a sociedade, inclusive a família, o afastava de qualquer convívio social ou religioso, ele era, por assim dizer, um proscrito! Verdade que muitas  sociedades procuraram melindrar o sofrimento através de espaços e instituições de convivência e tratamento com os medicamentos que se conheciam. Assim se criaram leprosários, alguns deles exemplares no tratamento dos enfermos. Entremeios também a maioria destes está desativada ou completamente repaginada. Pesquisas continuadas e a criação de novos medicamentos já curam a maioria dos casos  ou ao menos estagnam a enfermidade e lhe tiram o risco de contágio, tanto que leprosos vivem na sociedade sem serem necessariamente estigmatizadas. A doença, porém, continua existindo e o Brasil é um dos países de maior incidência nas Américas.

Há dois mil anos, no tempo de Jesus, o leproso era condenado ao isolamento fora dos muros da cidade, não podia se aproximar de ninguém, era considerado impuro também do ponto de vista religioso. Em suma, estava banido de sua sociedade, vivia do que pessoas davam e de restos, não podia participar de nada com sua família, sociedade ou religião. Também aos “sãos” não lhes era permitido se aproximar de um leproso. Ouçamos o relato que Lucas nos faz de uma cena em que Jesus se envolve com leprosos.

[Leitura do texto Lucas  17. 11-19]

Jesus era uma espécie de andarilho que caminhava não para fugir dos seres humanos, mas para ir ao seu encontro, saber deles, ter contato, anunciar o Reino de Deus. Em uma das vezes, quando estava a caminho de Jerusalém, ele ia passando pelas aldeias e foi abordado por um grupo de leprosos que lhe gritaram de longe (!): Mestre, compadece-te de nós! Eles queriam que Jesus visse a sua miséria e desgraça como um todo. A compaixão pedida não consistia apenas em um pouco de comida, mas em vida, vida digna. Não sabemos se houve algum diálogo, o que lemos é que Jesus manda os leprosos entrar no povoado e se apresentar   aos sacerdotes. Os sacerdotes, na sociedade judaica, tinham o poder de dizer se alguém era puro ou impuro, portanto, se estava em condições de conviver com a sociedade. Já no caminho, os leprosos estavam limpos de sua doença e de duas chagas. Eles podiam recomeçar a vida plenamente!

Agora começa uma segunda cena, esta a principal do texto. Um dos dez leprosos retorna para agradecer e este era samaritano. Mas não eram dez? Os outros nove certamente saíram correndo para se mostrar às suas famílias, aos seus amigos, aos dirigentes religiosos. Sim,  a vida completa deveria (re)começar! Eles não eram ingratos, mas havia tantas coisas mais importantes do que procurar esse Jesus para agradecer. E provavelmente ele já deveria estar longe em suas andanças.   Mais: eles, afinal, pertenciam ao “povo-raiz” de Deus… Volta um samaritano, que pertencia a um segmento discriminado e desprezado pelos judeus “de raiz”.  Lembremos que Jesus volta e meia tem contato e exalta os samaritanos por seu desprendimento, por não alegar descendências como se gostava de fazer (Somos filhos de Abraão!). Jesus o despede dizendo que a sua fé o salvara. O gesto de Jesus, de dizer ao samaritano que se levantasse significa lhe conceder toda a dignidade de ser humano onde se olha olho no olho!  Ele não precisa recorrer a preceitos religiosos ou quaisquer que sejam as prescrições.

Nada mais sabemos desse samaritano, mas é de se supor que ele sai dali para uma vida reta diante de Deus e dos seres humanos. Jesus lhe deu o que ele não mais tinha, uma vida digna.

Ingratidão é a paga que o mundo dá! Essa afirmação reflete muito bem o que tanto acontece. Ingratidão! Ela consegue minar as relações entre pais e filhos, entre vizinhos, até entre amigos, na comunidade, na vida social.  Ingratidão não é outra coisa do que dizer que a gente merece! A gente merece por sua qualidade, a gente merece porque trabalha, a gente merece porque vem de boa estirpe, a gente merece porque a família desde sempre pertenceu à comunidade… a gente merece! No momento que essa ideia se estabelece, acaba gratidão e acabam a gratuidade, a espontaneidade. E aí alguns merecem os primeiros lugares em detrimento dos outros, aí se fundamentam privilégios e uma sociedade absolutamente injusta na qual alguns são mais iguais!

Jesus quebra essa lógica constantemente em seus encontros (falando com mulheres, usando samaritanos como bom exemplo, defendendo a mulher que seria apedrejada, não aceitando o pedido aparentemente piedoso de sentar-se ao seu lado direito (lado do poder!). A gratidão leva a ações em favor de outros, a ingratidão faz com que eu olhe somente para mim e inclusive tenha pena de mim mesmo. A gratidão nascida na fé como resposta a Deus pela vida, pelo que se é, pelo que se tem, leva ao desprendimento que beneficia outros, ao desprendimento que não está focado em suas próprias vantagens.

Por mais que a ingratidão seja a paga do mundo, cristãs e cristãos não podem e não devem ceder à ingratidão, mas precisam mostrar, nas pegadas de Jesus, por onde e como vai a gratidão. Seguir as pegadas de Jesus não significa ficar sempre ao seu ladinho e repetir e repetir o seu nome, mas significa tomar rumos próprios no mundo, valendo-se das pegadas de Jesus. Para a gente não se esquecer:  andar nas pegadas de Jesus não tem tempo nem espaço para a ingratidão pois é por gratidão que se seguem as suas pegadas.

Um samaritano mostrou gratidão… Quanta gratidão será que podemos descobrir com aqueles que não estão em nossas igrejas e nossos programas?  Ou preferimos ser dos nove  curados que usaram o Cristo, mas tinham por demais compromissos imediatos, tanto que não lhes restava tempo para agradecer e colocar em prática a gratidão.  Amém.

P.em. Harald Malschitzky

São Leopoldo – Rio Grande do Sul (Brasilien)

harald.malschitzky@gmail.com

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