Marcos 3.20-35

Marcos 3.20-35

PRÉDICA PARA O 2º DOMINGO APÓS PENTECOSTES – 6.06. 2021. | Texto bíblico: Marcos 3.20-35 | Dari Appelt |

Graça e Paz a vocês que trabalham em favor da paz.Amém.

Estimada Comunidade!

O nosso mundo está repleto de estruturas que geram exclusão e morte. As estruturas políticas, sociais e até religiosas não vem cumprindo bem o seu papel de agregar, incluir, promover comunhão e vida digna; é crescente a intolerância com quem sente e pensa diferente! Esses espaços, que deveriam ser promotores da vida, da oportunidade de convivência fraterna e solidária, acabam, muitas vezes, por se tornarem lugares de exploração, de exclusão e geradores de sofrimento e alienação. Diante disso, somos convidados/as a refletir sobre a mensagem de Marcos 3, onde encontramos o desafio de enxergar os espaços de poder e de discipulado, de vida e de morte; entender melhor o que Jesus quer dizer com os exemplos que cita.

Pelos noticiários e fatos que ocorrem a nossa volta, e nem sempre são denunciados, observamos o desrespeito pela vida, o dom mais sagrado do Criador. Essas imagens nos colocam a pergunta: “Quem são minha mãe e meus irmãos?”(Mc 3.33). A resposta deve ser encontrada na reflexão com base no evangelho.

A passagem de Marcos 3.20-35 apresenta-nos duas pequenas histórias: a primeira sobre o conflito de Jesus com seus familiares, que pensavam que ele estava louco; a outra sobre os escribas de Jerusalém, que afirmavam que ele expulsa demônios por conta do poder conferido por Belzebu, ou como se diria hoje em certos círculos, “por ter parte com o diabo”. Somos colocados diante de desafios, tais como repensar a missão como Igreja, a família e também, de modo mais amplo, as estruturas de nosso tempo a partir da promoção da vida.

Na confissão de fé de 2 Co 4.13-5.1 (texto sugerido para leitura), onde Paulo, diante das aflições do presente anuncia uma nova casa, a casa “não feita por mãos, eterna, nos céus”, somos animados a enfrentar os conflitos e recriar espaços, a transformar a realidade e a anunciar a vida. E, nesse tempo de pandemia, isso é mais do que urgente.

Diante da realidade de violência, que provoca medo, insegurança e impõe sofrimento, o evangelho de Jesus Cristo é convite para gestar um novo tempo e resignificar as relações, restaurar a dignidade e o cuidado com toda a criação. O evangelho busca orientar e fortalecer a comunidade em meio as tribulações.

Costumo dizer que, quando o mar se agita e as ondas se tornam ameaçadoras, ou quando o vento não sopra a favor, para impulsionar o barco para seu destino, nós todos, que somos tripulantes, precisamos nos organizar e remar com muito mais vigor. A força nos vem da fé em Cristo e confiança em suas promessas. A situação de medo e sofrimento, representada pela palavra-chave: MAR, nos faz refletir. Esta palavra aparece em Marcos inúmeras vezes em frases de julgamento, tipo: jogar algo ou alguém no mar, como castigo pelos pecados. E, mais ainda, no sentido físico – Mar da Galiléia – onde, em suas margens, ocorrem as vocações, curas e outros milagres, onde se reuniam multidões para ouvir os ensinamentos do Mestre e sobre o qual Jesus revela seu poder. Mas, o mar também simboliza o caos, designava confusão, o lugar do medo, a habitação dos demônios. A primeira parte do Evangelho de Marcos tem como contexto Jesus e seu enfrentamento do mar e superação ao descrever Jesus acalmando a tempestade e caminhando sobre ele. De qualquer forma a tônica é o enfrentamento do mar, de toda sorte de conflitos, especialmente familiares e os que advém de uma interpretação equivocada da vontade de Deus, capaz de trazer alienação e confundir a fé.

Resumindo: Em torno do mar há conflitos, mas também vocações e curas. O mar é lugar de confronto e de discipulado, de medo e de ensino. É neste pano de fundo que nosso recorte bíblico se localiza.

E, agora, precisamos perguntar: qual é a ligação entre o conflito com a família e o conflito com os escribas de Jerusalém, autoridades religiosas da época? Para a família de Jesus, ele estava “fora de si”. Para os escribas, ele “tinha Belzebu”. Tanto a acusação de ter demônio como a acusação de ser louco são entendidas como processo ideológico para desacreditar o outro que vem com proposta de mudança no jeito de ser e agir, com novidades que desacomodam e questionam as estruturas de poder tradicionais. Jesus não tem medo de enfrentar a tradição e organizações como a família e religião, quando percebe que não cumprem o seu papel.

Jesus tem uma comunidade de seguidores ao seu redor. Frente ao conflito com os representantes da religião oficial, Jesus inaugura na relação com seus discípulos um novo espaço de vivência religiosa. Com relação à família diz: quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe. Portanto, nós somos família do Senhor quando priorizamos a vontade de Deus, e ele quer que todos tenham vida em abundância. Ele revelou isso enviando seu Filho ao mundo. Assim também é com relação a Igreja. O critério para saber se é missionária e autêntica é quando trabalha em favor da unidade, do respeito pela vida e na defesa da vontade de Deus, custe o que custar, fazendo uso de sua voz profética para denunciar toda sorte de violência e sombras da morte e anunciando mudanças que o amor é capaz de gerar.

O espaço da religião e o espaço da família são resignificados a partir do “fazer a vontade de Deus”. Surgem uma nova família e um novo espaço de fé, onde seguir a Jesus – discipulado – torna-se um caminho regenerador das vidas e das relações. Assim, a família existe para ser um espaço de bênçãos para todos os membros. A religião com seus espaços de vivência da fé deve ser “a casa do Pai” e “lugar de oração” e não de alienação, exploração e comercialização da graça.

Concluindo, volto a lembrar que, em meio a um mundo marcado por estruturas que produzem morte, a nossa palavra bíblica de hoje, nos convida ao discernimento e ao compromisso de construir espaços (ambientes) de discipulado e de promoção e resgate da vida. O grande desafio que temos é encontrar palavras de motivação para integrar a família cristã nessa missão. Amém.

 

P. Dari Jair Appelt

Timbó – Santa Catarina (Brasilien)

darijair@yahoo.com.br

 

de_DEDeutsch