Marcos 7.31-37

Marcos 7.31-37

PRÉDICA PARA O 15° DOMINGO APÓS PENTECOSTES | 5 de setembro de 2021 | Texto bíblico:  Marcos 7.31-37 | Mauri Kappel |

Texto:

31 Jesus saiu da região que fica perto da cidade de Tiro, passou por Sidom e pela região das Dez Cidades e chegou ao lago da Galileia. 32 Algumas pessoas trouxeram um homem que era surdo e quase não podia falar e pediram a Jesus que pusesse a mão sobre ele. 33 Jesus o tirou do meio da multidão e pôs os dedos nos ouvidos dele. Em seguida cuspiu e colocou um pouco da saliva na língua do homem. 34 Depois olhou para o céu, deu um suspiro profundo e disse ao homem: — “Efatá!” (Isto quer dizer: “Abra-se!”)

35 E naquele momento os ouvidos do homem se abriram, a sua língua se soltou, e ele começou a falar sem dificuldade. 36 Jesus ordenou a todos que não contassem para ninguém o que tinha acontecido; porém, quanto mais ele ordenava, mais eles falavam do que havia acontecido. 37 E todas as pessoas que o ouviam ficavam muito admiradas e diziam: — Tudo o que faz ele faz bem; ele até mesmo faz com que os surdos ouçam e os mudos falem!

Prezados irmãos e irmãs:

Jesus curou um homem surdo e gago perto do lago da Galileia. Depois ordenou às pessoas que presenciaram o fato que não contassem a ninguém o que acontecera. Esta proibição aparece em diversos textos no evangelho de Marcos. Jesus não queria que as pessoas soubessem do ocorrido. E ele tinha suas razões. Pelo menos duas.

1) As curas poderiam levar a uma falsa compreensão a seu respeito. As pessoas poderiam pensar que Jesus é um simples curandeiro; alguém que anda por aí fazendo alguns milagres; alguém a quem se pode recorrer nos limites da vida, quando os médicos não acham solução para o problema.

E Jesus sabe que curas não são suficientes para despertar a fé. Para conhecer Jesus é preciso mais: é preciso ver também como termina a sua vida.

Creio que isto é fácil de ser entendido. Muitos milagres – grandes e pequenos – têm acontecido em nossas vidas. Quantas vezes as pessoas dizem: “foi por milagre!”, “isto foi um milagre!”, atribuindo a Deus a salvação de algum perigo. Não é verdade?

Porém, estes fatos não são suficientes para alguém conhecer melhor a Jesus.

Para compreender Jesus é preciso olhar para a cruz, sua paixão e morte. Porque ele não é apenas aquele que cura, mas também aquele que dá a sua vida pela humanidade. E Deus estava com Jesus não só na hora de fazer milagres, mas também no abandono e na fraqueza da cruz.

2) Mas Jesus tinha também uma segunda razão para pedir que não contassem nada aos outros. Jesus queria que as pessoas o seguissem; que fossem seus discípulos. No capítulo seguinte ele mesmo diz: “quem quiser vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me”.

Isto é o que importa. Jesus quer que as pessoas aprendam com ele; quer que ouçam as suas palavras e as pratiquem. Seguir Jesus é aprender dele, é ser aluno dele.

Os milagres não nos tornam discípulos daqueles que o realizam. Quando um médico consegue nos salvar de uma doença, isto não nos torna discípulos daquele médico. Podemos considerá-lo bem profissionalmente, falar bem dele, indicar para outras pessoas, e só. E isto Jesus não queria. Ele não queria que as pessoas o vissem como um profissional da cura.

Alguns anos atrás a nossa Igreja emitiu um documento com colocações muito importantes sobre o cristão como discípulo. E, naquele documento aparecem três afirmações muito valiosas:

1) o cristão como discípulo precisa aprender certos conteúdos. 2) O cristão como discípulo precisa aprender o amor, a liberdade, a esperança. 3) O cristão como discípulo precisa aprender a cumprir a missão cristã.

O nosso texto é um relato de cura. Diz que algumas pessoas trouxeram a Jesus um homem surdo e gago, suplicando que Jesus o curasse. Jesus, então, o tirou da multidão, pôs os dedos nos ouvidos dele e tocou a língua com saliva. Elevou os olhos para o céu, suspirou e disse: “abre-te”. Imediatamente o homem começou a ouvir e falar desembaraçadamente.

Se nós olhamos este texto apenas como um relato de cura é possível que nos bata uma saudade de alguém tão especial e poderoso. Porque nós vemos tanto sofrimento e tanta doença, que seria bom se Jesus estendesse a sua mão e curasse muita gente. Como seria bom se o milagreiro Jesus passasse pelos hospitais públicos lotados! Que falta o milagreiro Jesus nos faz para curar o câncer, Alzheimer e diabetes …! E o que se diria do sofrimento e da perda de tanta gente para o Covid 19?

Mas, se nós olhamos mais adiante na vida de Jesus; se olhamos para o Cristo que enfrentou a cruz, então a perspectiva é outra. Porque Deus não está presente somente ali onde curas acontecem, mas ele está também na fraqueza, e onde a cura não é possível. Deus estava com Jesus quando ele curou o surdo e gago, mas também estava na sua cruz.

Deus está conosco quando milagres nos restituem a vida; quando somos salvos de algum perigo. Mas também quando nossa cura não acontece; quando o perigo fere a vida. E essa presença de Deus nos é revelada na cruz de Jesus Cristo. Ali Deus mostrou que a sua misericórdia não se afasta de nós, e ele nos ajuda a carregar as nossas cruzes.

Meus irmãos e irmãs, nós precisamos perguntar seriamente: qual é o aspecto da vida de Jesus que se destaca para nós: o homem poderoso, capaz de fazer milagres, ou o Jesus da cruz? Qual é o Jesus que nós anunciamos para os outros?

Certamente que ele se revela em muitos e tantos milagres que efetivamente acontecem em nossa vida. Mas ele se revela também nas cruzes que temos de carregar. A graça e a misericórdia de Deus estão presentes nos sucessos, como a cura, mas também nos fracassos, como a cruz. A nossa força sempre veio do evangelho; da confiança no Cristo; da esperança no agir de Deus.

Nós somos discípulos de Jesus. Também nós queremos segui-lo, aprender dele. Pedimos que ele abra nossos ouvidos para que possamos compreendê-lo da melhor forma possível; para que possamos ouvir suas palavras e guardá-las com fervor.

Mas, pedimos que ele abra também nossos lábios para que falemos desembaraçadamente sobre a maravilhosa graça de Deus.

Amém!

P.em. Mauri Kappel

São Leopoldo – Rio Grande do Sul (Brasilien)

maurikappel@gmail.com

de_DEDeutsch