PRÉDICA PARA O DIA  DA REFORMA

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PRÉDICA PARA O DIA  DA REFORMA

PRÉDICA PARA O DIA  DA REFORMA – 31 DE OUTUBRO DE 2020. | Texto: Gálatas 5. 1-11 | Breno Carlos Willrich |

A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus Pai e a comunhão do Espírito Santo seja com todas e todos vocês. Amém.

  1. Liberdade ou escravidão em Lutero e Paulo

O que preciso fazer para alcançar a salvação? Quais preceitos devo obedecer? Quais leis devo cumprir? De que devo me abster? Quantas obras devo realizar? Como conseguirei ser fiel a tantas exigências e, assim, agradar a Deus e ser digno de seu amor e salvação? Perguntas como estas atormentavam a vida de Martim Lutero em sua juventude no monastério. Deus, para ele, até então, não era um Pai amoroso, mas um Juiz severo. Lutero não se sentia como filho liberto, mas como escravo oprimido e deprimido.

Exigências e legalismos também eram temas de discussão quando o apóstolo Paulo escreveu a carta aos Gálatas. Aquela comunidade era formada por pessoas oriundas do judaísmo, que traziam consigo sua herança de leis e regras de sua experiência religiosa anterior, e por pessoas oriundas do mundo pagão, que não eram anteriormente praticantes das leis judaicas. Algumas lideranças do grupo oriundo do judaísmo estavam exigindo que os demais se submetessem aos seus rituais religiosos para serem considerados cristãos. Entre estas exigências estava a circuncisão. E muitas pessoas aceitavam esta condição ensinada pelos judaizantes se deixando circuncidar e escravizar pela lei como caminho de salvação.

O que preciso fazer para ser Cristão? O que preciso fazer para ser amado por Deus? Posso contribuir de alguma forma para ser salvo? A pergunta continua viva. E a resposta é: NADA! Não preciso e não posso fazer nada. Tudo já foi feito por Jesus Cristo na cruz do Gólgota. Quando, pendurado na cruz, carregando os nossos pecados, Jesus disse: “Está consumado”, Ele não se referia aos seus dias sobre a terra, nem a sua angustia e dor que estava terminando. Jesus se referia à obra da salvação. Está consumado significa que a salvação está dada. Nada mais há que se possa ou se precise fazer além disto. Jesus já fez tudo. A salvação é e sempre será presente imerecido.

Os conflitos do reformador Martim Lutero e as crises da comunidade dos Gálatas tinham o mesmo fundo teológico: Achar o que seria necessário contribuir para a salvação. E quem assim pensa, no fundo, considera a obra de Jesus insuficiente e vã.

Em meio a seus conflitos Martim Lutero estudada as Sagradas Escrituras. Ele tinha um carinho todo especial pela carta aos Gálatas. Em seus estudos ele descobriu que a pessoa não  se torna justa diante de Deus pelas suas obras, mas pela obra de Cristo. E que a fé neste Cristo e em sua obra liberta a pessoa para uma vida de amor a Deus, a si mesmo e ao próximo. Como lemos no versículo 6 de nosso texto de pregação: “Pois, quando estamos unidos com Cristo Jesus, não faz diferença nenhuma estar ou não estar circuncidado. O que importa é a fé que age por meio do amor”.  Esta descoberta libertadora deu início ao movimento da Reforma. Lutero foi porta voz desta notícia libertadora. Não poderia ficar com esta descoberta só para ele. A Reforma foi um movimento de chamar as pessoas da escravidão para a liberdade. Arrancar as pessoas do medo do inferno para experimentarem a filiação do Deus de amor e desconstruir as falsas ideias de que o perdão e o céu pudessem ser comprados com obras ou indulgencias.

O apóstolo Paulo, ao tomar conhecimento de que na comunidade dos gálatas muitas pessoas estavam abandonando o caminho da liberdade e voltando para a escravidão da lei, lhes escreve reafirmando que “Cristo nos libertou para que nós sejamos realmente livres” e animando-os com as palavras: “Por isso, continuem firmes como pessoas livres e não se tornem escravos novamente”. O problema não estava somente no fato de se submeterem a circuncisão, mas em testemunharem, com isto que o sacrifício de Cristo não fora o suficiente. Por isso Paulo é duro em dizer que “se vocês deixarem que os circuncidem, então Cristo não tem mais nenhum valor para vocês” e que com isto estariam negando a graça de Cristo.

  1. Escravidão em nossos dias

Será que a escravidão da lei ainda hoje é ameaçadora para a liberdade cristã? Sim. Vejamos alguns exemplos.

Há muita religiosidade que promove escravidão hoje. Muitas pessoas ainda acham que podem comprar a salvação e o céu da prosperidade através da prática do dízimo. Muitas outras ainda negam o seu batismo e pedem pelo rebatismo, testemunhando com isto, que a graça de Cristo oferecida do batismo quando criança não é o suficiente e, com isso,  decaem da graça. Há tantos que continuam a ler a Bíblia como um conjunto de leis que oprimem, desprezam e excluem. Dia da Reforma é tempo de dizermos como Paulo disse aos gálatas: “para a liberdade foi que Cristo nos libertou”.

Vivemos em tempo onde a “meritocracia” é levantada como bandeira por muitas pessoas e grupos. Para você ser alguém, ser reconhecido, ter o seu espaço, ser admirado… você precisa merecer, dizem estas vozes de nosso tempo. No tempo da meritocracia nada é de graça e nada é fácil. A vida é escravizada pelo trabalho, pela carreira, por aquilo que se espera para o amanha. Enquanto se busca por ser alguém neste mundo o tempo passa, os filhos crescem, a gente envelhece, os necessitados são esquecidos, a gente se torna rude e a felicidade fica mais distante. Dia da Reforma é tempo de dizer: não se deixem novamente escravizar.

Experimentamos tempos de faz de conta. As redes exigem pessoas de sorriso aberto, de corpos esbeltes, com histórias bonitas pra contar, com festas pra compartilhar… Fraqueza, tristezas, lágrimas, histórias difíceis e rugas não tem lugar. Somos escravizados no mundo da aparência e do faz de conta. Para nos sentirmos amados, valorizados, queridos, precisamos criar um personagem. Enquanto isso nosso verdadeiro eu é sufocado. Jovens se entregam as drogas, famílias são destruídas e o sentido de vida se perde. Reforma luterana é tempo de dizer: Deus te ama por graça, ele conhece teu verdadeiro ser e te quer bem. Com este Deus da graça podes abrir teu coração.

  1. Livres para amar.

Comemorar a reforma Luterana não é somente recontar uma história, mas é participar da vida liberta para amar. Se Cristo já fez tudo estou livre de fazer qualquer coisa para minha salvação. Então posso fazer muitas coisas porque já sou salvo. Posso me empenhar em causas que defendam a bela criação, que promovam inclusão, que denunciem o mal e semeiem o bem.

Se minha participação comunitária não é sacrifício que busque algo em troca, então posso participar com alegria e doar com espontaneidade para que mais pessoas conheçam o imerecido amor do Pai.

Se sou aceito como sou sem ter que provar meu mérito e nem ciar um personagem de faz de conta, então posso lutar por um mundo onde todos podem ter seu espaço para ser e encarar a vida de cabeça erguida, sem vergonha, sem menosprezo, sem medo.

Reforma é convite para a festa da liberdade. Participem dela com alegria e não se deixem escravizar, porque em Cristo vocês são verdadeiramente livres.

Amém.

 

P. Breno Carlos Willrich

Blumenau –  Santa Catarina, Brasilien

pastorbreno@terra.com.br

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