Romanos 9.1-5

Romanos 9.1-5

PRÉDICA PARA O 10º DOMINGO DE PENTECOSTES | 6 de agosto de 2023 | Texto bíblico: Romanos 9. 1-5 | Osmar Luiz Witt |

Oremos: Querido Deus! Te pedimos: abençoa a pregação da tua Palavra entre nós. Faze dela lâmpada para os nossos pés e luz para os nossos caminhos. Em nome de Jesus, amém.

Estimada Comunidade de Jesus Cristo!

A passagem da carta aos Romanos que acabamos de ouvir nos convida a uma reflexão sobre várias questões ligadas à fé cristã. Uma delas é a pergunta: O meu jeito de ser de Cristo é a única maneira de pertencer a ele?

Saulo, como se chamava o apóstolo Paulo antes de sua conversão na estrada para Damasco, foi um ferrenho perseguidor das pessoas que estavam no Caminho com Cristo. Depois da mudança de rumos que experimentou, tornou-se igualmente um ardoroso defensor da fé cristã e um zeloso missionário, ajudando a fundar comunidades cristãs. Não foi este o caso, porém, da Comunidade cristã em Roma, a capital do Império Romano, a qual Paulo não fundou. Podemos perguntar “como é que Paulo chega a escrever uma carta para esta comunidade, a qual ele não fundou (…), e a qual não conhecia de todo (…), a carta mais extensa, mais rica em conteúdo e a mais importante de todas as suas cartas que nos são conhecidas? A resposta deduz-se de 15. 22ss. Paulo entende a sua tarefa missionária no leste do Império como concluída, e pretende, após a entrega da coleta realizada em suas comunidades, viajar de Jerusalém para o oeste e lá, na Espanha, iniciar o trabalho missionário. Para essa nova tarefa ele necessita, (…) da comunidade de Roma como um ponto de apoio, de proteção, de vínculo entre sua velha e sua nova área de atuação, assim como noutras vezes assumiu seu trabalho missionário a partir de centros (Antioquia, Éfeso). Assim, ele pretende visitar a comunidade em Roma para estabelecer relações com ela. Preparar essa visita é a razão do escrito que Paulo envia para a comunidade.” (Paul ALTHAUS). Ou seja: Algumas cidades foram alcançadas pelo evangelho de Jesus e pequenos núcleos de seguidores e de seguidoras foram se constituindo. Era parte da estratégia de atuação de Paulo, criar nas cidades pontos de apoio para a evangelização, isto é, o anúncio do Evangelho.

Um longo trecho dessa carta aos R

omanos está dedicado ao tema da relação entre a fé cristã, pela qual Paulo foi alcançado, e o pertencimento ao povo escolhido de Israel, sua origem.

“Paulo apresenta o Evangelho em distinção ao Judaísmo,” (e não em oposição a ele), “pois essa é a luta de sua vida, o que deu o formato de sua teologia. Exatamente nisso a comunidade pode aprender a conhecê-lo” e constatar qual sua percepção e entendimento das Escrituras Sagradas. Os capítulos 9 a 11, dos quais faz parte o texto que ouvimos, revelam como ele entendeu o destino de Israel, seu povo.

“O destino de Israel, o discernimento entre o evangelho para os gentios e a promessa para Israel (…) era uma pergunta desafiadora para toda a Igreja cristã, construída sobre o fundamento de Israel.”

Se Paulo estabelece fronteiras e distinções entre o novo Israel (a Igreja cristã) e o antigo Israel (do qual ele mesmo é parte), não o faz pelo interesse na controvérsia, mas para falar do Evangelho que o arrebatou e que deseja repartir com todas as pessoas. Por isso, a leitura da perícope deve ser feita na ótica do que está descrito no versículo 8, logo na sequência: “Não são os filhos da carne que são filhos de Deus, mas são os filhos da promessa que são tidos como descendentes.” (9.8) A mesma perspectiva nos é oferecida pela leitura do Evangelho que ouvimos: Assim como Jesus multiplica pães e peixes para “toda a multidão”, a mensagem da salvação é anunciada a todos os povos e a todas as pessoas, como também está descrito na carta aos Gálatas: “Assim sendo, não poder haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vocês são um em Cristo Jesus. E, se vocês são de Cristo, são também descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa.” (Gálatas 3.28s.) A mesma orientação nos é dada pela mensagem do profeta Isaías, que acentua que o convite de Deus é gracioso e se dirige a todas as pessoas que têm sede.

O apóstolo Paulo, tendo em vista essa perspectiva inclusiva, que excede os limites da velha aliança, não nega a sua origem e ora para que salvação alcance a todos: 10.1: “Irmãos, o desejo do meu coração e a prece que faço a Deus em favor deles é que sejam salvos.” 2: “Dou testemunho a favor deles de que têm zelo por Deus”. Eles porém, 3: “desconhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à justiça de Deus.” 4: “Porque a finalidade da Lei é Cristo para a justificação de todo o que crê.”

Encontramos nesta passagem de Paulo um veemente anúncio da salvação pela fé em Jesus Cristo. E, igualmente, um testemunho de abertura, de inclusão e de não rejeição de ninguém por razão de sua fé. Assim, permito-me retomar a pergunta que apresentei no início: O meu jeito de ser de Cristo é a única maneira de pertencer a ele?

Trata-se de um tema delicado, sabemos. Assuntos de fé, ensina a sabedoria popular, não se discutem. Ninguém gosta de ver relativizadas suas convicções quando se trata da relação com Deus. Permitam-me, porém, tirar o tema da alçada das discussões de doutrinas, e deixar que ele lance alguma luz sobre questões do nosso cotidiano. Há sabedoria, e não relativismo, na postura e na argumentação do apóstolo Paulo. Quando somos confrontados e confrontadas com convicções religiosas que não são exatamente as nossas, seremos capazes de dizer com Paulo? 10.1: “Irmãos, irmãs, o desejo do meu coração e a prece que faço a Deus em favor deles é que sejam salvos.” 2: “Dou testemunho a favor deles de que têm zelo por Deus”. Eles porém, 3: “desconhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à justiça de Deus.” Também nós não o fizemos e precisamos aprender a fazê-lo todos os dias. 4: “Porque a finalidade da Lei é Cristo para a justificação de todo o que crê.” Pensemos nisso, não somente quando se busca o diálogo entre as religiões, mas também quando nos deparamos com opiniões distintas dentro da comunidade, ou mesmo da família. Às vezes, sofremos com a sensação de que estamos perdendo terreno para outros grupos religiosos, ou o que é pior, parece-nos que uma postura de indiferença em relação à fé e Igreja nos rodeiam e não vemos saída. Outras vezes, somos surpreendidos por testemunhos de vida que parecem demonstrar que alguma semente que foi lançada no passado está ainda dando frutos. Deus tem seus caminhos para alcançar os corações. Tanto das pessoas que nos são próximas e com as quais sofremos porque não seguem exatamente os nossos passos, quanto de pessoas que não gostamos ou pelas quais não nos importamos. “Os teus caminhos, Senhor, são mais altos do que os meus”, já confessava o profeta Jeremias. Disso é exemplo o próprio apóstolo Paulo e o que Deus promoveu em sua vida.  O meu jeito de ser de Cristo é a única maneira de pertencer a ele?

E paz de Deus, que supera o nosso entendimento, guarde nossas mentes e corações em Cristo Jesus. Amém.

Oremos: Obrigado, querido Deus, porque tu alcanças e transformas vidas para além de nossa percepção e entendimento. Amém.

  1. Ms. Osmar Luiz Witt

São Leopoldo – Rio grande do Sul (Brasilien)

olwitt@est.edu.br

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